terça-feira, 21 de setembro de 2010

Sensibilidade, lógica e argumentação...

Já repararam como as pessoas andam sensíveis? Alguém fala algo, independentemente do teor do assunto, quem disser qualquer palavra que discorde, mesmo com fundamentação lógica ou no mínimo plausível, é como se você tivesse agredindo o âmago, a individualidade, a subjetividade do locutor. Não sei se era eu quem não percebia tanto isso porque antigamente estava muito mais "nem aí" do que agora. Essa situação anda meio absurda, para exemplificar:

- Eu achei esse quadro tão bonito!

- Não achei nada demais.

- Eu não achei nada demais.

- POR QUE VOCÊ NÃO RESPEITA A MINHA OPINIÃO? EU ACHEI LINDO DEMAIS PORQUÊ......

Bem, normalmente eu não pergunto por que alguém acha algo bonito, daí eu nem costumo prestar atenção na "contrarresposta", até porque geralmente realmente nem me interessa. Outra coisa que anda igualmente ridículo, quem sabe até "perigoso", são casos como, por exemplo:

O pai diz que acha a filha de quatro anos muito bonita. Em alguns segundos você pode ter certeza que existirá pelo menos um achando que o pai é "pedófilo", "pervertido", ou qualquer outro termo pejorativo que o valha. Que sentido isso faz? Lembrando que estamos numa época que não podemos achar ninguém bonito(a). Se eu digo que tal pessoa é bonita, significa quase que diretamente que estou a desejando, quero um sexo selvagem e por aí vai. Simplesmente não se pode achar mais ninguém bonito, não se pode mais elogiar, porque é necessariamente dar em cima com segundas intenções. A sensibilidade que eu quis dizer mora nesses exemplos. Estão pegando cada vez mais minúcias de convivência comum e elevando-as ao absurdo. Não posso dizer que está me incomodando. Meu medo é que essa visão de mundo parece estar aumentando. Se a minha geração está agindo assim naturalmente, imagina a próxima, em que não viveu por um segundo num lugar em que as pessoas não fossem "fanáticas" assim.

Outra coisa que me intriga é que em qualquer assunto, tem-se de tomar um partido. O problema é que as pessoas não querem respostas concisas, lógicas e bem fundamentadas. As pessoas querem formular no máximo dois ou três modelos de resposta e você, indiscutivelmente, tem de escolher uma resposta, mesmo não sendo nem um pouco perto do que você pensa. Por vezes, são respostas como "sim", "não", "talvez", "certo", "errado", "honesto", "desonesto". Sim, respostas lacônicas que não expressam praticamente nada e que quase sempre generalizam totalmente o contexto, como se a vida fosse feita por fórmulas permanentes. Esse tipo de pergunta/resposta normalmente estão atreladas a relacionamentos, política, religião, posições morais, entre outros temas "polêmicos" em que sinceramente não há como responder com uma solução pronta. Como eu estou no embalo de falar sobre "perguntas/respostas", já repararam como essa coisa de experiência pessoal anda contando muito, senão tudo, sobre um assunto? Desde que me conheço por gente (será?), pessoas que não são próximas sempre acharam que sou metido a sabidão. Acredito que atualmente meus amigos entenderam que minha proposta na maioria das vezes era apenas para "sucitar o debate". Hoje ainda há resquícios de uma época em que eu ria muito às custas de alguém realmente muito, mas muito puto, querendo me moer na pancada. Para falar a verdade acho que nunca aconteceu nada demais porque visivelmente sempre tive cara de doido e sempre tive fama de brigão/bom de briga sem nunca ter caído na porrada em vinte e três anos de vida. Posso admitir agora: não sou brigão e muito menos bom de briga. Todavia, não arrisque, para o seu próprio bem. (RÁ).

Mas o que eu ia dizendo, são pessoas que usam argumentos como "eu sei muito desse assunto, meu pai teve câncer ano passado". O problema não é saber muito do assunto, o problema é o cara achar que entende mais de câncer do que um oncologista veterano formado na melhor faculdade do mundo, só porque passou pelo SOFRIMENTO de ter tido um pai doente. Certas falácias lógicas estão passando como uma verdade absoluta a maior parte do tempo. As experiências pessoais andam sobrepondo o conhecimento científico. Estou dizendo que as experiências pessoas são inúteis? Absolutamente não. O que as pessoas têm de parar para pensar é que o conhecimento científico é baseado em diversas experiências pessoais, só que documentados e analisados de maneira metodológica. Previsões científicas podem errar? Claro que podem, oras. A questão é que daqui a cem anos, eu duvido que existirão previsões erradas ou levianas como ainda ocorre. O conhecimento se aprimora, não é óbvio? A humanidade pelo menos faz isso direito. É uma pena que usamos todo tipo de conhecimento para ferrar com outras pessoas antes de pensarmos em fazer o bem.

Quanto às falácias, eu me desviei do assunto. Todo mundo anda admitindo uma conclusão ilógica para duas premissas verdadeiras. Uma recente que eu andei vendo:

Premissa A: O Brasil precisa de investimentos na educação, saúde, segurança de modo emergencial.

Premissa B: O Brasil agora tem saldo positivo no FMI e atualmente é um credor internacional.

Conclusão: O Brasil está investindo errado o dinheiro, empresta algo que não tem e não dá a mínima para o cenário social.

A conclusão parece verdadeira. Porém as pessoas não sabem nem para que serve o Fundo Monetário Internacional, e, acho que por costume, creem que um empréstimo nunca será devolvido ou que não existam juros. Sim, emprestar dinheiro ao FMI é um investimento sem muito risco, é um retorno praticamente certo, é LUCRO. Se a prioridade do Brasil é essa, ou não, não se pode concluir a partir de premissas tão precárias. O que teria de ser estudado é se os empréstimos realizados estão prejudicando os outros setores e outras coisas que eu não sei dizer porque eu não sou estudioso no assunto. Ah, o nome dessa falácia lógica é "non sequitur", em que as premissas são verdadeiras, porém a conclusão não as segue. O que eu quero dizer é o fato das pessoas não raciocinarem sobre o que leem. Aparece qualquer reportagem, artigo, matéria, sobre posições que a pessoa se interessa e o leitor não para para pensar se aquilo faz sentido ou não. Ninguém quer saber se de fato algo ocorre ou ocorreu, só justificam "eu vi em algum lugar" e tomam como verdade, sem crítica alguma. No fim, obviamente, se algo é provado que não ocorreu, justifica-se, depois de ter reproduzido veementemente para o Universo inteiro, com um "mas eu vi em algum lugar". Não se cobra mais crítica, não se cobra mais evidência. Como eu posso confiar tão cegamente em notícias que muitas vezes são cópias traduzidas de sites estrangeiros ou em jornais de grande circulação que copiam na cara dura BLOGS HUMORÍSTICOS achando que determinada reportagem é verdade?

Não, não estou falando sobre política, muito menos defendendo alguém específico. Só entendo que se for para exercer a liberdade de expressão, não exercer com essa libertinagem. E também não falo só de jornais ou revistas, falo de burburinho maldoso que acontece de maneira "natural" por aí a fora. Muitas pessoas têm suas vidas bruscamente alteradas por causa de uma notícia ou outra justamente porque ninguém mais está interessado em saber se algo foi provado ou não. As notícias veiculadas normalmente giram em torno dessas falácias:

“argumentum ad ignorantian", que consiste em algo que não foi provado que é falso, logo é verdadeiro;

"argumentum ad populum", que tem a sua veracidade comprovada através da grande quantidade de pessoas que acreditam;

"argumentum ad verecundiam", é a clássica que se alguém importante está falando, então deve ser verdade;

e por, último, a preferida de todo mundo: "argumentum ad hominem", que é atacar uma pessoa e não necessariamente o argumento apresentado.

Obviamente usam-se mais falácias, essas são as que eu mais percebo e que todos deveriam perceber. Não sou deslumbrado de achar que não sou manipulado de alguma forma, mas pelo menos eu tento não ser ludibriado com qualquer punhado de palavras.

Tente não ser também. VOTE ...

Brincadeira.

Obs.: como sempre, o começo do texto não tem nada a ver com o final.