segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

"Deus salva e o médico manda a conta".

Algo que acho relevante dizer aqui são alguns motivos pelos quais sustento certas descrenças. Claro que não terei capacidade de elucidar com total clareza tudo o que eu penso.

Primeiramente, não acreditar em Deus não significa que levanto a bandeira da Ciência. Inclusive, eu tenho a convicção que a Ciência é tão viciada quanto às religiões. Digo isso pelo contexto fático. Em teoria toda religião é boa, todas pregam boas coisas que sem dúvidas visam um mundo de paz e felicidade. Já a Ciência, basicamente, serviria para a emancipação de conhecimentos e forneceria formas de enxergar a realidade da forma mais provável e lógica possível. Entretanto, a Ciência que realmente vincula é veiculada para vender e direcionar pensamentos. Se tal empresa patrocina tal pesquisa, é óbvio que os resultados publicados não serão "puros". Se a Ciência deve ser vista como um conceito abstraído e independente dos interesses de quem publica determinados resultados, também deveríamos enxergar as religiões como um método de engrandecimento espiritual.

O que eu quero dizer é o óbvio: enquanto ideia, é "simples" demonstrar e analisar conceitos. Enquanto aplicação, nada (ou quase nada) estará livre das influências externas. É como quando estudamos física na escola. Lembra? Estudávamos movimento uniformemente variado e movimento uniforme, queda livre, etc e nunca considerávamos o atrito, as variações caóticas de velocidade, a força dos ventos. Não considerar certas influências externas serve apenas para o âmbito zetético. Claro que não estou dizendo que você, em um estudo, não poderia considerar todas as influências externas. Porém, convenhamos que seria complicado considerar TUDO. Afinal, existe o acaso, a sorte e o fato de Deus não querer certas coisas (rooonc). Vale ressaltar que também não estou dizendo que o estudo de matérias abstraídas é inútil, longe disso, patético. Seria ignorar o planejamento das missões espaciais e tentar lutar contra uma das bases do Iluminismo. Só por nota de curiosidade: antes do Iluminismo, não haviam matérias separadas, por isso Leonardo da Vinci era pintor, inventor, estilista e web designer.

Outro ponto importante a ser levado em consideração é a extrema confusão de alguns ateus ao acharem que o sujeito que acredita em Deus é criacionista. Acordem, amigos. Aposto que nem o Papa crê na literalidade de Adão e Eva. Um amigo meu da faculdade lembrou-me de São Tomás de Aquino, um dos gênios da Idade Média. O santinho, com base em pensamentos aristotélicos, simplesmente mudou o rumo da Igreja, criando a ideia de que fé e razão estão no mesmo patamar e não se opõem. Sim! Na Idade Média o pensamento que rolava era esse! "Escolástica", lembrou do seu ensino médio?

Deu para perceber que uma das minhas propostas nesse blog é meio que a proposta (que eu entendi) do filme "Obrigado por Fumar". É não discordar por discordar ou concordar por concordar. Muitas pessoas deixam de fazer, fazem, acreditam ou desacreditam e nem sabem por quê. Só porque alguém supostamente mais entendido disse ou porque a maioria diz. O que eu vejo são muitas pessoas que se dizem ateias acreditando em qualquer pesquisa, independentemente de onde ela é publicada. Desde Revista Veja à Scientific American. Assim como a maioria das vezes um teísta acredita sem se aprofundar, às vezes um ateu valoriza qualquer informação que parece ter sentido. Já parou para pensar em quantas pesquisas estão em andamento na sua Universidade? Sim, centenas e quem sabe milhares. Aí no domingo o Fantástico divulga uma pesquisa de Havard falando que quem não fuma dá o cu e você ou começa a dar o cu ou fatalmente começa a fumar, porque foi um renomado cientista de Havard quem demonstrou por "a mais b" com sua amostra de mil pessoas de um pequeno vilarejo, com os laudos e relatórios de todos os exames psiquiátricos, anais, psicológicos e pneumológicos.

O problema é que a descrença geral é tão assustadora quanto a crença geral. Hoje existem métodos muito mais sofisticados para convencer alguém de algo. Tão refinados que atualmente você acha que está pensando sobre o assunto e ainda tem direito a réplica. No fim, você age como alguém quer, achando que é muito maravilhoso agir pela sua própria vontade. Não precisamos mais de Deus para te convencer.

Enfim. A minha descrença em Deus começou quando eu comecei dar mais valor à História. Quando Deus não foi pretexto de poder, violência e manipulação? No quesito "Deus ajuda, Deus salva", tudo fica ainda mais irônico. Deus ajuda você na cura do câncer. Por que raios Deus te meteu um câncer? Logo vem o argumento autossuficiente "para testar a sua fé". Sim, claro. Amigo, Deus é tipo pílula de matar a sede. Tome uma com auxílio de dois copos d'água e a sua sede vai embora. A diferença é que pelo menos aqui no Brasil Deus é mais caro que água.

Você consegue separar Deus de coisas oriundas da existência dele (sim, as merdas)? Eu consigo e acredito que você também consegue. A questão é que no mundo real, até hoje as pessoas se mutilam e se matam para mostrarem que têm a maior fé. E não se engane achando que o Brasil está livre dessa rivalidade. Católicos e não-católicos se desrespeitam entre si, já que alguns procedimentos e em alguns assuntos existem divergências (e quanto menos fiéis, menos arrecadação). O interessante é que todas igrejas concordam com o culto ecumênico. Vai lá e pergunta ao padre responsável por determinada igreja se ele deixa um pastor fazer um culto para a sua formatura. Aaah, deixa sim. Tenta.

O problema é que a proposta de respeito entre as religiões é bem hipócrita. Tão hipócrita quanto falar da ausência de preconceito racial no Brasil e que todos são iguais e livres. Entretanto, repito, manter a ignorância é lucrativo. O statu quo não pode variar.

Obs.: O dia que eu me candidatar à Presidência, terei de eliminar esses escritos. Porque católico só vota em católico e por aí vai.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

oras bolas.

Desconsiderem o que eu falei sobre os negros, índios e todos os povos não caucasianos. Eles têm alma sim. Inclusive, desculpe-me por eu tê-los torturado, massacrado e humilhado. Digo o mesmo sobre as pobres mulheres, mas elas pareciam uma ameaça, sabe? Não era minha intenção queimá-las depois de mutilá-las, não era mesmo. Inclusive, a gente nem concorda totalmente com aquele padre que queria marcar os homossexuais. No fundo, no fundo, os homossexuais também são gente, oras bolas! O que importa é que Deus perdoa, porque é claro que nós nos arrependemos. Nos resta rezar bastante, pagar aquela quantia todo mês e ofertar aquele trocadinho em toda celebração, certo? Afinal o representante da Trindade na Terra precisa liberar seus dejetos em cerâmica com diamantes e limpar o que sobrou em uma macia toalha banhada a ouro.
Ei, já agradeceu hoje? O quê?! Não?! Se você foi capaz de ler isso, tem mais do que motivos para ser feliz! Deus é justo.
Aleluia.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

no meio dos produtos.

É impressionante como somos produto do meio. E quase sempre seguimos a linha de raciocínio desse meio. Quem deixa de seguir uma vez, é automaticamente repreendido. Ou, se a ideia for boa demais, é raramente elogiado. A grande questão é que é difícil não pensar como o meio, ou pensar como você já está acostumado.

Já se deparou com situações em que você está tentando resolver, pensando, escrevendo ou construindo e do nada aparece aquela lâmpada em cima da sua cabeça? Às vezes é você mesmo que tem a ideia, às vezes é um pitaco de alguém, o que importa é que vem à sua mente "NOSSA! ERA ISSO" e normalmente é algo extremamente simples, que o fato de não ter pensado antes até assusta.

Monteiro Lobato dizia que todos deveriam ter uma boa negra trabalhando em sua casa. Ele foi racista? Se era eu não sei, porém em minha opinião ele apenas seguia o modelo do regime da época. São poucos que têm ideias realmente originais e são menos ainda aqueles que conseguem convencer outras pessoas de certos paradigmas. Vegetarianismo, por exemplo, boa parte dos vegetarianos tenta convencê-lo da prática, com inúmeros argumentos. Um destes consiste em afirmar que o animal irracional é tão animal quanto nós, sofre como nós e tem tanto direito como nós de sobreviver em paz. No meu âmago, creio que não vai demorar até que o mundo inteiro se toque que esse argumento é válido. A gente "já" acha que índios, negros, homossexuais e et cetera têm direitos plenos, apesar da hipocrisia. Índios, negros, homossexuais e et cetera ainda se dão mal, se dão mal e muito. Quando aparece algo para amenizar o mal, as pessoas esperneiam, reclamando a disparidade de direitos. O que eu quero dizer é o seguinte: mudar não é fácil. O jeito que você está acostumado é muito mais confortável. Entretanto, acredito que a tendência é admitirmos gradativamente que todos os seres estão no mesmo patamar de evolução. Sim, não é novidade para ninguém que descendemos da mesma célula e a sucessão de acasos formou a fauna e a flora. E ainda forma e desforma.

Claro que sempre aparece um retardado e uma legião de retardados que querem involuir certos pensamentos que versam sobre respeito. Geralmente esse "um" é um malandrão que se aproveita de algum ponto fraco social e se vale dos argumentos mais imbecis para manipular toda uma população ignorante. Exemplo? "Vamos atacar os países x porque eles nos ameaçam com seus terroristas patrocinados constantemente!" Sempre rola o discurso do medo. Por exemplo, esses programas de televisão que exploram a violência e incitam o ódio às camadas desprestigiadas pecuniariamente, por vezes de maneira bem direta. "Pena de morte! Tem que tacar esse filho da puta na jaula!" E blablablá. Não quero (ao menos nesse texto) fazer nenhum apelo humanitário, mas é bom você lembrar que existe detento ladrão de leite-em-pó porque vê o filho passando fome (cabe ressaltar que furto famélico não é crime, porque o estado de necessidade elimina a ilicitude do fato - obviamente cabe ao juiz distinguir as situações) e é esquecido numa clausura com capacidade para seis pessoas, que comumente tem cinqüenta e quatro pessoas ou muito mais, normalmente em cima de bosta, mijo, vômito, sujeito a qualquer tipo de doença, humilhação e todos sabem que quando esse cara sai, ele viverá com o fardo eterno de criminoso, detento, desonesto. Fora que esse infeliz normalmente não vai ter apoio nenhum de ninguém, porque ninguém que ele conhece tem condições de dar apoio. Um professor meu, outrora juiz-diretor da Vara de Execuções Penais, disse que o ex-detento saía sem NENHUM DOCUMENTO, DINHEIRO, apenas com a roupa do corpo. Vamos às abstrações: esse cara não saía com nenhum tipo de perspectiva. Depois de ser torturado, humilhado e contraído moléstias, esse infeliz quer ver todo mundo explodir, inclusive você. Vou parar por aqui, fugi sinistramente do assunto.

Já reparou como é complicado ser ou fazer algo diferente das praxes? Fale com seus pais que para você Deus não existe. Seus pais acharão que você está perdido. Em certos ambientes é até melhor não dizer o que pensa, pois tirar os ignorantes da caverna é algo perigoso. O ignorante tem argumentos autossuficientes do tipo "se você não é marxista, você é manipulado pela globo"; "se você não crê em Jesus como seu salvador, é porque está com o demônio", "se você é a favor da liberação da maconha, você é um maconheiro e colabora com a violência"; entre outros argumentos próprios de gente cega, que nunca parou para raciocinar sobre qualquer assunto. Apenas reproduz o que lê, escuta ou assiste, utilizando-se de pobres argumentos de autoridade. Antes de eu tentar ser contra algo, eu tento descobrir ao máximo o que é ser a favor. Quando nascemos e adquirimos um mínimo de intelectualidade, automaticamente recebemos rajadas de informações sobre o que é certo ou o que é errado. Inclusive, acredito que a gente aprende mais o que é errado do que certo. Todavia, parte dos errados é apenas discurso tacanho, oriundos de um contexto que nem se sabe por que é errado. Lembra da velha história do abacaxi com leite? Por que é errado usar drogas? Droga só é droga quando está no Index Drograrium Proibitorium da ANVISA? E você que bebe, fica bêbado, passa mal e faz merda? É mais certo usar drogas que não estão em uma lista que as proíbe?

Viver em um mundo de ignorantes, sem dúvidas, é lucrativo para muitos. É possível vender toda gama de quinquilharias inúteis, mas são tidas tão valorosas e surpreendentes como o gelo em Macondo. É possível inventar qualquer tipo de crença ou modificar algumas para setecentos milhões de pessoas seguirem no mesmo dia e doarem vinte e seis por cento dos seus salários mixurucas para qualquer orador que vai embolsá-lo morrendo de rir da sua capacidade de discernimento.

É tão fácil influenciar pessoas que antes ninguém nem conhecia a Apple direito, ninguém entendia a piadinha da maçã, sobre a carta de Stevie Jobs para o Forest Gump, agora com a modinha de Ipod, se fala em "applemaníacos" com muito mais frequência. E a moda ser de algum estilo? Nerd está na moda, por sinal. Amigos meus me chamam de nerd ou geek tem muito tempo, olha que as minhas características físicas estão longe do estereótipo trivial. Somos produto do meio, só que uns agem com naturalidade e outros não. Eu não preciso comprar, vestir, ler, assistir, acreditar ou gostar para me sentir bem, inserido.

Ateísmo um dia será moda e não ter crenças porque alguém mandou vai ser cult. Irônico, não?
Abraços, produtos.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

criar e destruir.

O discurso. Suficiente para criar ou destruir qualquer coisa existente ou inexistente. Sou estudante de Direito (isso não significa muita coisa) e vejo isso o tempo todo, teoricamente e na prática. Creio que "Deus" é o maior fruto do discurso, a invenção mais criativa de todos os tempos. Por isso, Ele provavelmente será o objeto principal das indagações e divagações que pretendo expor aqui. Na realidade, serão praticamente desabafos, certos assuntos que eu não consigo parar de pensar em certos momentos e quero registrá-los em algum lugar, para não se perderem, ou, para ver como eu mesmo mudo durante o decorrer do tempo.

Os pensamentos que eu pretendo publicar aqui serão tentativas de argumentar de vários lados, mesmo não consistindo na minha opinião. Digamos que serão majoritariamente masturbações mentais, ideias e devaneios que tenho na rua, no ônibus, no carro, na bicicleta, na sala de aula, no banheiro, no cavalo, no telhado, aqui, ali e acolá.

Boa parte do mundo acredita em tudo o que dizem, outros não acreditam em nada, mesmo com evidências plausíveis. Alguns são apenas chatos, outros tentam pensar demais. O mais comum são pessoas que simplesmente não têm oportunidade ou vontade (muitas vezes devido o contexto social) de saberem o que realmente acontece, ou pelo menos, o que é mais próximo da realidade.

O meu grau de incerteza sobre certos assuntos é muito alto. Por isso comecei esse texto com "O discurso". Tudo depende dele, da sua sofisticação, sua capacidade de dobrar qualquer evidência. Já dizia Goebbels que uma mentira dita mil vezes, vira verdade. De fato, muitas vezes o discurso nem precisa ser rebuscado. Apenas precisa ser repetido, incessantemente; e isso faz parte da "sofisticação". Às vezes, só precisa de um sentimentalismozinho e muita gente falando as mesmas nojeiras ao mesmo tempo. Algo engraçado: boa parte das pessoas que eu questiono "por que você acredita em Deus?" responde "pô, fui criado assim, minha família toda acredita". Impressionante que não param para pensar por que PENSAM.

Há pouco interesse na história de certas crenças. Nem me refiro às atrocidades praticadas sob a égide de bandeiras religiosas, e sim, sobre a evolução dos pensamentos, de como surgiram e como foram aceitos pelo povo da época. Uma hora acreditam no poder dos ascendentes mortos, outra hora em gigantes com um olho só e outra em barbudos cabeludos que desafiam as leis da física e da natureza.

O interessante é que atualmente se alguém for pobre, barbudo, cabeludo, ou os dois e tiver idéias caóticas sobre como o mundo funciona e ainda se dizer o filho do Sol, você pode ter certeza que este seria mais um excluído que pede dinheiro. E se você souber que este maluco com doze anos deu aulas para doutores? Você vai pensar "era um prodígio e o governo não fez nada para amparar o infeliz!".

Enfim, nesse blog não sou contra nada. Apenas quero propor discussões sobre assuntos variados, sem tentar convencer, sem pragmatismo, todavia sempre com intenções.