sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

no meio dos produtos.

É impressionante como somos produto do meio. E quase sempre seguimos a linha de raciocínio desse meio. Quem deixa de seguir uma vez, é automaticamente repreendido. Ou, se a ideia for boa demais, é raramente elogiado. A grande questão é que é difícil não pensar como o meio, ou pensar como você já está acostumado.

Já se deparou com situações em que você está tentando resolver, pensando, escrevendo ou construindo e do nada aparece aquela lâmpada em cima da sua cabeça? Às vezes é você mesmo que tem a ideia, às vezes é um pitaco de alguém, o que importa é que vem à sua mente "NOSSA! ERA ISSO" e normalmente é algo extremamente simples, que o fato de não ter pensado antes até assusta.

Monteiro Lobato dizia que todos deveriam ter uma boa negra trabalhando em sua casa. Ele foi racista? Se era eu não sei, porém em minha opinião ele apenas seguia o modelo do regime da época. São poucos que têm ideias realmente originais e são menos ainda aqueles que conseguem convencer outras pessoas de certos paradigmas. Vegetarianismo, por exemplo, boa parte dos vegetarianos tenta convencê-lo da prática, com inúmeros argumentos. Um destes consiste em afirmar que o animal irracional é tão animal quanto nós, sofre como nós e tem tanto direito como nós de sobreviver em paz. No meu âmago, creio que não vai demorar até que o mundo inteiro se toque que esse argumento é válido. A gente "já" acha que índios, negros, homossexuais e et cetera têm direitos plenos, apesar da hipocrisia. Índios, negros, homossexuais e et cetera ainda se dão mal, se dão mal e muito. Quando aparece algo para amenizar o mal, as pessoas esperneiam, reclamando a disparidade de direitos. O que eu quero dizer é o seguinte: mudar não é fácil. O jeito que você está acostumado é muito mais confortável. Entretanto, acredito que a tendência é admitirmos gradativamente que todos os seres estão no mesmo patamar de evolução. Sim, não é novidade para ninguém que descendemos da mesma célula e a sucessão de acasos formou a fauna e a flora. E ainda forma e desforma.

Claro que sempre aparece um retardado e uma legião de retardados que querem involuir certos pensamentos que versam sobre respeito. Geralmente esse "um" é um malandrão que se aproveita de algum ponto fraco social e se vale dos argumentos mais imbecis para manipular toda uma população ignorante. Exemplo? "Vamos atacar os países x porque eles nos ameaçam com seus terroristas patrocinados constantemente!" Sempre rola o discurso do medo. Por exemplo, esses programas de televisão que exploram a violência e incitam o ódio às camadas desprestigiadas pecuniariamente, por vezes de maneira bem direta. "Pena de morte! Tem que tacar esse filho da puta na jaula!" E blablablá. Não quero (ao menos nesse texto) fazer nenhum apelo humanitário, mas é bom você lembrar que existe detento ladrão de leite-em-pó porque vê o filho passando fome (cabe ressaltar que furto famélico não é crime, porque o estado de necessidade elimina a ilicitude do fato - obviamente cabe ao juiz distinguir as situações) e é esquecido numa clausura com capacidade para seis pessoas, que comumente tem cinqüenta e quatro pessoas ou muito mais, normalmente em cima de bosta, mijo, vômito, sujeito a qualquer tipo de doença, humilhação e todos sabem que quando esse cara sai, ele viverá com o fardo eterno de criminoso, detento, desonesto. Fora que esse infeliz normalmente não vai ter apoio nenhum de ninguém, porque ninguém que ele conhece tem condições de dar apoio. Um professor meu, outrora juiz-diretor da Vara de Execuções Penais, disse que o ex-detento saía sem NENHUM DOCUMENTO, DINHEIRO, apenas com a roupa do corpo. Vamos às abstrações: esse cara não saía com nenhum tipo de perspectiva. Depois de ser torturado, humilhado e contraído moléstias, esse infeliz quer ver todo mundo explodir, inclusive você. Vou parar por aqui, fugi sinistramente do assunto.

Já reparou como é complicado ser ou fazer algo diferente das praxes? Fale com seus pais que para você Deus não existe. Seus pais acharão que você está perdido. Em certos ambientes é até melhor não dizer o que pensa, pois tirar os ignorantes da caverna é algo perigoso. O ignorante tem argumentos autossuficientes do tipo "se você não é marxista, você é manipulado pela globo"; "se você não crê em Jesus como seu salvador, é porque está com o demônio", "se você é a favor da liberação da maconha, você é um maconheiro e colabora com a violência"; entre outros argumentos próprios de gente cega, que nunca parou para raciocinar sobre qualquer assunto. Apenas reproduz o que lê, escuta ou assiste, utilizando-se de pobres argumentos de autoridade. Antes de eu tentar ser contra algo, eu tento descobrir ao máximo o que é ser a favor. Quando nascemos e adquirimos um mínimo de intelectualidade, automaticamente recebemos rajadas de informações sobre o que é certo ou o que é errado. Inclusive, acredito que a gente aprende mais o que é errado do que certo. Todavia, parte dos errados é apenas discurso tacanho, oriundos de um contexto que nem se sabe por que é errado. Lembra da velha história do abacaxi com leite? Por que é errado usar drogas? Droga só é droga quando está no Index Drograrium Proibitorium da ANVISA? E você que bebe, fica bêbado, passa mal e faz merda? É mais certo usar drogas que não estão em uma lista que as proíbe?

Viver em um mundo de ignorantes, sem dúvidas, é lucrativo para muitos. É possível vender toda gama de quinquilharias inúteis, mas são tidas tão valorosas e surpreendentes como o gelo em Macondo. É possível inventar qualquer tipo de crença ou modificar algumas para setecentos milhões de pessoas seguirem no mesmo dia e doarem vinte e seis por cento dos seus salários mixurucas para qualquer orador que vai embolsá-lo morrendo de rir da sua capacidade de discernimento.

É tão fácil influenciar pessoas que antes ninguém nem conhecia a Apple direito, ninguém entendia a piadinha da maçã, sobre a carta de Stevie Jobs para o Forest Gump, agora com a modinha de Ipod, se fala em "applemaníacos" com muito mais frequência. E a moda ser de algum estilo? Nerd está na moda, por sinal. Amigos meus me chamam de nerd ou geek tem muito tempo, olha que as minhas características físicas estão longe do estereótipo trivial. Somos produto do meio, só que uns agem com naturalidade e outros não. Eu não preciso comprar, vestir, ler, assistir, acreditar ou gostar para me sentir bem, inserido.

Ateísmo um dia será moda e não ter crenças porque alguém mandou vai ser cult. Irônico, não?
Abraços, produtos.

4 comentários:

Pí Ême. disse...

Algumas alfinetadas são impagáveis. Outras coisas, me leio aqui.
Adorei, novamente, meu pretume.

Leonardo Dalvi Alvarenga disse...

Porra, vc escreveu na aula de Evandro?

CÁSSIO REBOUÇAS DE MORAES disse...

"é esquecido numa clausura com capacidade para seis pessoas, que comumente tem cinqüenta e quatro pessoas ou muito mais, normalmente em cima de bosta, mijo, vômito, sujeito a qualquer tipo de doença, humilhação..."

"- Se eu estivesse preso nessas condições, eu ficaria profundamente... magoado..."
by Wiltão.

Lembra disso, na aula de Criminologia? hehehe


"Viver em um mundo de ignorantes, sem dúvidas, é lucrativo para muitos"

Como diria um ditado "cético":

"Enquanto existir otário, malandro não passa fome." hehehe


Quanto a previsão do ateísmo virando moda, eu posso estar errado, mas acho que, caso vire moda, para aqueles em quem a moda "pegou", seria difícil reverter (não impossível, claro).

Se fosse assim, não seria ruim uma modinha de ateísmo, desde que estes novos ateus tenham motivos/argumentos suficientes para aderir à moda. Mas não seria nada legal aparecerem um bando de novos ateus do tipo "metaleiro-ateu-burrão-rebelde-sem-causa": "Eu sou ateu porque a igreja controla as pessoas. Se você acredita em deus, você é um cordeiro dominado. YEAH" (argumentos autossuficientes, que você citou).

Anônimo disse...

muito bom o texto, joaquim.
e vou comentar sobre a parte que eu me sinto mais tocado:

outro dia a gente achava que negros eram inferiores, que mulheres não tinha capacidade, que judeus não eram gente. hoje eles tem direito iguais, mas mt gente nega.
é a mesma coisa com os animais.
hj a maior parte acha que são só coisas pra gente usar, mas eles já tem direito, como vc deve saber.
chegará 'a vez deles' tb.

ah sim, esqueci de mencionar os homosexuais.

bjasso! sempre lendo!